17 janeiro 2004

"O Vendedor, o Soldado, o Crítico, o Pervertido e Eu Próprio."

Disse o Vendedor:

“Encontramos a sua alma gémea!
E como é o nosso melhor cliente,
vou fazer-lhe uma pequena atençãozinha!
Só terá que pagar as actualizações anuais!
É ou não é uma pechincha?”
Ó escasso privilégio, o dos afortunados!
Que de um rebanho inteiro de ovelhas negras
Só a branca foi escolhida:

EU!

Vociferou o soldado:
“Tenho medo!
Não da guerra mas de ti!
Da tua falsa sabedoria adquirida as pressas
na Literatura Inclusa do Antipirético
legalmente obtido sem receita médica!”
Ó quão pesada é a pena
Dos ignorantes que se arrastam pelo mundo,
estrumando as calças
quando se confrontam com alguém como:

EU!

Escreveu o Crítico:

“Sobre ti caíra o meu dedo calunioso,
Que vergonhosamente manchará a reputação que não tens!
Que o que sair pela minha voz e pela minha caneta
Seja a profecia da vida,
Que quero que tenhas!”
Ó critica gratuita!
Louvada seja a tua subsistência,
que sejas muito generosa para quem te venera!”
Entretanto assobio e pergunto:

Quem? EU?

Boçalmente Berrou o Pervertido:

“O pervertido aqui és tu!
Hipócrita, merdoso, preconceituoso, cobarde!
Não vales o mais abafado dos meus peidos!”
Ó inútil raiva,
Que seja feita a tua vontade!
Que o teu ódio te traga a felicidade que procuras!
Porque com ou sem ela,
O infeliz será sempre acusado de ser como:
EU!

E da janela do prostíbulo
um a um e em coro,
Todos eles gritam:
“Junta-te a nós ou morre!”

Com voz tímida respondo:

Eu? Nem morto!